A inclusão digital como elemento transformador da educação

A pandemia do Covid-19 recentemente tornou mais explícita um problema que não é recente no Brasil. A dificuldade da população, em especial as crianças e jovens em idade escolar em ter acesso ao computador e ainda, habilidade suficiente para dele fazer um uso adequado como ferramenta de aprendizado.
Segundo Relatório “Pesquisa sobre o uso das Tecnologias de Informação e Comunicação nos domicílios brasileiros” do Comitê Gestor da Internet no Brasil, publicado em 2018, apenas 42% dos domicílios possuem algum tipo de computador, seja ele um computador de mesa, tablet ou computador portátil. Esse percentual varia para cada região do país sendo que a diferença maior existe entre a classe social menos favorecida. Na classe mais alta, segundo a pesquisa, 98% dos domicílios possuem algum tipo de computador, enquanto nas classes mais baixas, praticamente 91% não possuem nenhum tipo de dispositivo.
O acesso à internet também mostra uma grande diferença. Para as classes sociais mais altas, mais de 90% dos lares possuem acesso à internet. Nas classes menos favorecidas, este número chega a 40%, sendo em sua maioria conexão sem banda larga, ou seja, uma conexão com a internet mais lenta e com menos disponibilidade de acesso.
Os motivos para a ausência de acesso à internet nestes lares vão desde à dificuldade de acesso por conta do valor do serviço, como também da falta de conhecimento ou necessidade de uso.
Este é um desafio que Brasil precisa vencer para que possa efetivamente oferecer um ensino de qualidade e igualitário para todos. A nova Base Nacional Comum Curricular – BNCC, veio orientar os currículos dos sistemas de ensino do país e auxiliar as escolar a criarem suas propostas pedagógicas, mostrando o que cada aluno deve aprender. A nova BNCC, procura quebrar o ensino essencialmente conteudista e estabelece os conhecimentos, competências e habilidades que se espera que todos os estudantes desenvolvam durante a educação básica.
Entre essas competências está a cultura digital. Segundo a BNCC, os alunos devem compreender, utilizar e criar tecnologias digitais de forma crítica, significativa e ética e desenvolver habilidades essenciais até o final do ensino fundamental (RICO, 2018). Aqui faço uma observação sobre o uso do verbo CRIAR que consta na BNCC. Vejo a partir da minha experiência como professor, que esta é uma das maiores dificuldades enfrentadas pelos alunos. Isso se dá pela dificuldade em compreender os conceitos básicos da tecnologia e fazer da sua utilização algo mecânico. Por isso é importante não só a vivência com a tecnologia como também o estudo de princípios básicos da computação para que esse uso se torne mais fácil e que possibilite que os alunos passem da condição somente de usuário passivo da tecnologia para um aluno que possa criar produções e soluções computacionais.
Entretanto, o primeiro desafio é o acesso. Aluno sem acesso efetivo à tecnologia tem dificuldade em aprender e desenvolver esta cultura. Venho de uma geração que não tinha computador na escola e nem mesmo em casa, pois o custo do computador era muito alto na época. Meu aprendizado se dava por cursos extras que fazia. Mas aprendi mesmo quando pude comprar meu primeiro computador. Computação se aprende com teoria… e com muita prática.

Bibliografia
CTIC.BR. Pesquisa sobre o uso das Tecnologias de Informação e Comunicação nos domicílios brasileiros – TIC Domicílios. 2018. Disponível em: https://www.cetic.br/publicacao/pesquisa-sobre-o-uso-das-tecnologias-de-informacao-e-comunicacao-nos-domicilios-brasileiros-tic-domicilios-2018/. Acesso em 21/08/2020.
RICO, Rosi. Competência 5: Cultura Digital. Nova Escola. Disponível em: https://novaescola.org.br/bncc/conteudo/9/competencia-5-cultura-digital. Acesso em : 20/08/2020.